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Negligência do governo ameaça tornar COP30 a mais excludente da história

A 90 dias da COP30, com o multilateralismo em frangalhos, as ameaças crescentes de Donald Trump ao clima e à economia global, o hemisfério Norte enfrentando novos recordes de calor e o aquecimento da Terra no rumo de ultrapassar 1,5º C permanentemente, a discussão sobre a conferência de Belém está sendo monopolizada pelo único tema que deveria ser um não-assunto: a infraestrutura hoteleira.

A negligência do governo federal e do governo do Pará, que tiveram dois anos e meio para equacionar a questão das acomodações na cidade e não o fizeram, transformaram esse tema numa bomba que explodiu agora, com países pedindo mudança de sede e observadores da sociedade civil dizendo que não terão condições de vir.

Sem uma solução imediata para a crise, a COP no Brasil arrisca ser a mais excludente da história, com redução no número de delegações nacionais, de membros de órgãos constituintes e outros observadores e da imprensa. A expectativa de fazer a COP do povo em Belém, com mobilização maciça pelo clima, se desfaz: os custos proibitivos de hospedagem reduziram e ainda reduzirão mais o número de representantes da sociedade civil global que comparecerão.

Agora a corrida é para que líderes mundiais não boicotem a conferência e para que todos os países possam mandar delegações completas.

Uma redução no número de delegados impactaria a própria legitimidade do que for negociado em Belém, dando aos países que não querem ver o Acordo de Paris prosperar a desculpa perfeita para atrapalhar a negociação.

Uma COP esvaziada seria, além de um vexame histórico para o Brasil, uma preciosa oportunidade perdida para a humanidade num momento em que temos apenas cinco anos para manter viva a meta de temperatura do acordo do clima.

Não foi por falta de aviso. Desde quando se ofereceu para sediar a COP30, o governo brasileiro sabe quais são as demandas logísticas da conferência – que não se confundem com as de outros grandes eventos realizados em Belém.

A cidade, como seria o caso com quase todas as outras capitais do Brasil, deveria ter sido adaptada à COP. Em vez disso, porém, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), responsável pela logística, e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), adotaram a estratégia de adaptar a COP à cidade e reputar qualquer questionamento sobre infraestrutura a preconceito contra o Pará e seu povo. Isso ficou patente em fevereiro deste ano, quando já havia uma crise de hospedagem evidente e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que os delegados dormissem sob as estrelas.

Já naquele mês começou a ser prometida a plataforma digital de meios de acomodação, que segundo o governo ficaria pronta em algumas semanas.

Em 30 de março, o secretário extraordinário da Casa Civil para a COP30, Valter Correa, ofendeu embaixadores ao sugerir que os países reduzissem delegações. Também foi sugerido que os delegados dividissem quartos.

Mais uma vez a plataforma foi prometida para dali a algumas semanas.

Em 19 de junho, na conferência de Bonn, o Brasil foi duramente questionado por países ricos e pobres e pela sociedade civil internacional, mas limitou-se a garantir que haveria acomodação para todos e que a plataforma estaria no ar no fim de junho.

Ela entrou no ar em agosto, com preços ainda inacessíveis para a maior parte dos delegados. Até agora não há resposta sobre acomodações para os observadores.

O governo teve tempo para construir hotéis e trazer navios, entre outros itens que compõem as necessidades da conferência. Fez menos do que o necessário. Contou com a dedicação e extrema paciência da população local, que agora é cobrada injustamente sobre os preços extorsivos das acomodações.

Estes são decorrentes da negligência do poder público, que ora lava as mãos e chama abuso de lei da oferta e demanda. Agora o Brasil recebe dos países ameaças de boicote e pressões para tirar a COP da Amazônia e corre dolosamente o risco de perder uma oportunidade para o Pará, o país e o planeta.

Por Observatório do Clima

Arimatéia Jr.

Arimatéia Jr.

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