Único sobrevivente do desastre da Ponte JK cobra apoio às famílias: ‘nada foi feito até hoje’
Entre as vítimas da tragédia estão a esposa e a filha de Jairo / Foto: Montagem | Reprodução
Um ano após o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), o único sobrevivente da tragédia, Jairo Rodrigues, decidiu se manifestar publicamente nesta segunda-feira (22/12), data que coincidiu com a inauguração da nova estrutura. O desabamento, ocorrido em 22 de dezembro de 2024, deixou 14 mortos e três desaparecidos, entre eles a esposa e a filha de Jairo.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o educador físico fez um desabafo marcado por dor, indignação e críticas à ausência de assistência às famílias das vítimas. “Hoje completa um ano que eu perdi minha filha e minha esposa, as coisas mais importantes da minha vida. A ponte vai voltar a funcionar, mas a vida das minhas meninas e das outras vítimas não. Até hoje nada foi feito”, afirmou.
Jairo perdeu a esposa, Cássia de Sousa Tavares, de 34 anos, e a filha Cecília, de apenas 3 anos. Ele estava no carro com as duas no momento do acidente e sobreviveu após ser arremessado do veículo quando o vão central da ponte desabou. Desde então, relata que não conseguiu retomar a rotina. “Eu não consigo voltar para a minha casa. Estou morando na casa da minha mãe. A vida que a gente tinha não existe mais”, desabafou.
No pronunciamento, Jairo também criticou a escolha da data para a inauguração da nova ponte, realizada exatamente no aniversário de 1 ano da tragédia. “É muito fácil trabalhar o ano inteiro para colocar a ponte para funcionar justamente no mesmo dia em que aconteceu essa tragédia. Mas as pessoas que morreram não voltam mais. E as famílias que perderam seus entes queridos?”, questionou.
Ele afirmou ainda que nunca houve acolhimento ou resposta concreta às famílias atingidas. “Nada foi feito. Nada, nada. A preocupação foi só fazer a ponte voltar a funcionar. Mas por que não tiveram essa preocupação antes, com a manutenção da ponte antiga, para evitar tudo isso?”, disse.
Nas redes sociais, onde reúne mais de 36 mil seguidores, Jairo compartilha frequentemente reflexões sobre o luto e a tentativa de seguir em frente. Segundo ele, a prática esportiva tem sido uma das poucas formas de aliviar a dor. “O que tem me ajudado a levantar, além da fé em Deus, é correr. Saio para correr, ou melhor, chorar”, escreveu em uma publicação recente. Em outro desabafo, afirmou que o sofrimento não diminuiu com o tempo. “Todo dia parece que foi ontem. São tantos porquês sem respostas”, relatou.
Investigação
O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek ocorreu por volta das 14h50 do dia 22 de dezembro de 2024, quando o vão central da estrutura cedeu e diversos veículos caíram no Rio Tocantins. Pelo menos oito veículos se envolveram no acidente, entre motos, carros, caminhonetes e caminhões, alguns deles transportando substâncias perigosas, como ácido sulfúrico e defensivos agrícolas.

Laudo da Polícia Federal apontou que o desabamento foi causado por excesso de peso aliado à falta de manutenção da estrutura, além de indicar possível omissão de agentes públicos. Apesar das conclusões técnicas, a PF informou que o inquérito segue em andamento e que ainda não houve indiciamentos ou prisões.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) também instaurou investigação preliminar para apurar responsabilidades. Durante a inauguração da nova ponte, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o órgão está preparado para realizar as indenizações às vítimas e familiares, após a conclusão dos trâmites legais e a definição dos valores.
A cerimônia contou com a presença dos governadores do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e do Maranhão, Carlos Brandão (PSB). Enquanto a nova ponte simboliza a retomada da ligação entre os dois estados, o relato de Jairo Rodrigues evidencia que, para as famílias atingidas, a tragédia segue aberta, sem reparação efetiva e com feridas ainda expostas.

Nova ponte restabelece uma importante conexão entre os estados e marca um recomeço para a comunidade





